Tacto para fortalecer o contacto

Na parte final de 2003 produziu-se um curioso
“contacto” entre a Real Academia Galega e a Associaçom Galega da Língua.
Um pouco antes, no mês de julho do mesmo ano, fora aprovada o que se
dera em chamar a “nova normativa” ou mesmo “normativa de concórdia” e o
Portal Galego da Língua, dependente da AGAL, disponibilizou para a sua
audiência o arquivo que continha aquelas famosas mudanças (de permitir
Galiza ou de dar preferência a “ao” e à primeira forma do artigo). A tal
medida divulgadora do PGL nom sentou nada bem dentro da RAG, que a
entendeu como usurpaçom intelectual e que resolveu enviar à entidade
irmá um duro requerimento escrito em que chegava a falar de acudir a
serviços jurídicos. Quem assinava a carta era Xosé Ramón Barreiro
Fernández e quem a recebia era Isaac Alonso Estraviz.
Imaginemos que o desencontro acabasse por tomar o
caminho do julgado e que o historiador e o lexicógrafo se tivessem que
ver “arbitrados” por alguém que sentiria indiferença perante o conflito
normativo, porque o seu idioma profissional seria outro. Seria tempo
perdido e dinheiro perdido e conflito avivado. Seria a continuidade
dumha sementeira de ódio que se vinha repetindo e que tanto dano levava
feito.
Felizmente, o conflito resolveu-se em menos de
cinco minutos. Foi suficiente umha breve chamada telefónica e o
“contacto” permaneceu onde tinha que permanecer: no ámbito privado.
Carvalho Calero con Aurora Marco e Bernardo Penabade (en primeiro
plano), no 1985, nos primeiros anos da AGAL. Imagem do arquivo de Aurora
Marco. [A imagem da capa corresponde a umha fotomontagem no facebook
@RicardoCarvalhoCalero]
Quinze anos mais tarde, com esse mesmo espírito de
concórdia e com igual amor pola nossa terra, temos que propiciar um novo
“contacto”, desta vez para resolver esse assunto pendente chamado “Dia
das Letras para Ricardo Carvalho Calero”. Bem sei que nom é fácil e que
nom se soluciona com umha simples chamada telefónica, mas estou
convencido de que é umha prioridade para o sistema cultural galego e
como tal prioridade hai que a atender sentando a conversar. A meta:
consensuar as linhas gerais a concretizar mais tarde nos diferentes
programas de actividades. Dez anos atrás esta proposta nom seria mais do
que pura retórica tacticista, porém neste momento é perfeitamente
possível. O sentido da responsabilidade é infinitamente superior ao de
anos atrás.
Se a biblioteca de Ricardo Carvalho Calero está na
sede do Parlamento Galego e umha grande parte da sua obra está nos
catálogos de Galaxia, de Sotelo Blanco, da Através, da Universidade de
Santiago e ainda doutras entidades, o seu pensamento está igualmente
estendido pola sociedade galega. D. Ricardo é figura de referência nos
centros sociais do ámbito urbano que seguem o modelo de Artábria e a
Gentalha do Pichel, nas escolas Semente que se vam assentando em boa
parte do território e nos meios de comunicaçom de ámbito comarcal,
nacional ou internacional que contribuem a vertebrar-nos internamente e
a mostrar o melhor de nós para o exterior.
À vista deste contexto, neste 17 de dezembro elevo
a minha humilde voz para reclamar esse diálogo necessário entre A e B,
porque A e B somos todas e todos nós, identificados com umha vestimenta
ou com outra, mas com absoluta consciência de que fazemos parte dum
corpo comum.
https://adiante.gal/tacto-para-fortalecer-o-contacto/