Velaí os estám!

Como cada domingo Olímpia acudiu à
igreja de Grandal. Depois da cerimónia religiosa, um homem convocou a
vizinhança para informar que contava com todas as licenças para exumar o
corpo do seu avô. O único que precisava era o consentimento da paróquia.
Ao princípio, a tensom apoderou-se
das e dos assistentes. Nom queriam remexer nesse passado incómodo.
Décadas de silêncio ainda os paralisavam. De facto, as folhas do registo
de defunçons de 1936 a 1939 foram arrancadas e umha lousa de mármore “A
los caídos por Dios y por España” profanava a fachada do templo. No
fundo das consciências espreitava o terror.
Para o pai de Francisco Rodríguez
convertera-se numha obsesom conhecer onde soterraram o cadáver do seu
próprio pai. O fascismo espanhol figera desaparecer o carpinteiro José
Maria Rodríguez Braxe. No leito de morte, o dirigente nacionalista
prometera-lhe fazer o possível por achá-lo. Em 2011 todos os indícios
apontavam a Grandal.
No meio da confusom surgiu umha voz
que impugnou o medo. A intervençom de Olímpia Varela Cortizas conseguiu
mudar o clima da reuniom. Ela bem sabia do que falava o forasteiro. Os
criminosos também arremeteram contra a sua família. Aquela nonagenária
custodiava a memória clandestina da infámia. Olímpia saiu da sacristia e
com o cajado assinalou um recanto do cemitério: Velaí os estám!
Manuel Varela González era o tio de
Olímpia. Para ela fora como um pai. Vinhera da Havana para cuidar a
prole do finado do seu irmao. Graças a sua grande inteligência fora
designado vice-presidente da Federaçom Agrícola Comarcal de Pontedeume e
vereador no governo municipal do Frente Popular em Vilarmaior. Olímpia
lembra os meetings que dava polos redondezas e como exercia de agente
eleitoral de Suárez Picalho.
Nos primeiros dias da sublevaçom
militar, Manuel Varela González percorrera a comarca nunha camioneta a
requisitar armas em defesa da República. Ia acompanhado do padeiro
Manuel Varela Varela e do ferreiro José Maria Varela Salido.
Manuel Varela González conseguiu
fugir e aguentou dous meses no monte. No 11 de setembro de 1936
aparecera pola casa para celebrar o aniversario da filha pequena, mas
ali será acurralado e assassinado polos falangistas. No 23 de novembro
Manuel Varela Varela foi executado no cemitério ferrolám de Canido. Por
último, José Maria Varela Salido passou pouco tempo na prisom do partido
judicial de Pontedeume. No 19 de agosto foi levado ao cemitério de
Caamouco, em Ares, onde foi fuzilado junto a cinco vizinhos de
Pontedeume e outros dous de Monfero.
Caamouco, Canido, Grandal: a
cartografia da barbárie expande-se e atravessa as geraçons. Perverso
eufemismo qualificar de guerra ao extermínio sistemático da populaçom
civil comprometida com a democracia.
Após o assassinato do seu tio,
Olímpia tornou-se no homem da casa. Quando era moça, escondia as maos
porque nom queria que lhas viram. Davam-lhe vergonha. Sentia-se umha
escrava de tantos trabalhos polos que passara. A pesar do absoluto
abandono institucional, essas maos antifascistas resistirom noventa e um
anos. Chegado o momento nom duvidárom em mostrar o caminho da justiça e
da reparaçom.
Marcos Abalde Covelo
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