Andrea Lamas, trabalhadora do 061: “O capitalismo conseguiu diluir a classe em setores”

O 061 está em greve. A pesar dos
serviços mínimos abusivos do 100%, as trabalhadoras do 061 levam
articulando desde o 1 de agosto um ciclo de luitas, concentraçons e
medidas de pressom para conseguir compensaçons acordes as problemáticas
ocasionadas polo traslado forçoso do seu centro de trabalho até a
Estrada a mais de 30 quilômetros da atual localizaçom no edifício de Sam
Marcos em Santiago de Compostela. Nesta segunda-feira, após fechar um
processo de negociaçom que fracassou, o pessoal estatutário e de atençom
a chamadas do 061 retoma a greve concentrando-se as doce horas diante
das dependências da CRTVG. Neste contexto, desde o Galizalivre
citamo-nos no compostelá Parque de Belvis com Andrea Lamas
tele-operadora do 061 e afiliada da CUT que afronta o seu primeiro
processo grevista no mundo do trabalho.
Começamos com umha
pergunta obrigada. Qual é a leitura que sacas como moça sindicada ante a
tua primeira greve?
Em primeiro lugar penso houvo
erros a hora de atirar a greve. Desde a minha perspectiva a greve é umha
ferramenta que precisa de umha grande preparaçom prévia e mais neste
centro de trabalho, onde há medos polas fortes repressálias que chegarom
ao ponto dos despidos em ciclos de luita anteriores. Também um certo
“seguidismo” na hora dos tempos de convocatória do sector médico
chegamos a greve sem ter realizado em profundidade a necessária labor de
socializaçom das problemáticas entre as companheiras, mais precisa hoje
que nunca devido à perda de consciência de classe a niveis gerais e as
travas postas pola administraçom.
Por outra banda estou
ilusionada, penso que toda a energia, confiança e laços gerados neste
conflito servem para seguir mobilizando-nos e exigindo outro tipo de
melhoras como ser serviço público ou ter um convénio próprio.
Levades tempo
mobilizadas, com concentraçons e em paro indefinido; em frente coloca-se
umha empresa e umha administraçom que nom querem negociar e a imposiçom
duns serviços mínimos do 100%. Quais som as estrategias para encarar um
processo grevista com estas travas?
Nada, levando camisolas ao
trabalho (Risos). Denuncia-se a justiça porque nom tem sentido, se há um
trabalhador que é delegado sindical e precisa horas essa vaga nom se
ocupa ou quando há um acidente de múltiples vítimas como no caso do
Marisquinho notamos que falta pessoal na sala, entendemos que o 100% de
serviços mínimos é meramente político porque a nível efetivo e de
serviço nom tem sentido.
Depois ao ter dous agentes com
os que negociar (A Fundaçom do 061 e o Grupo Norte) vemos como se passam
a pelota entre eles. Por exemplo o Grupo Norte delega na Fundaçom a
subida salarial.
Como se organiza todo
isto? Tedes as trabalhadoras outras canles de debate e expressom além do
comitê?
No conflito do 112 conseguiu-se
estabelecer umha mesa de trabalho independente ao comité. A intençom era
implantar isto; por umha banda descarregas de trabalho ao comité e pola
outra implicas a mais pessoas e sobretudo mais figuras porque nom todas
estamos com as mesmas condiçons e temos as mesmas necessidades. Temos
assembleias, mais é complexo ligar a partes significativas do quadro de
pessoal nisto, precisa-se umha tradiçom prévia de trabalho e
assemblearismo para que a comunicaçom nom se reduza à boca a boca e as
vias telemáticas.
Descreves um tempo de
perda de consciência de classe e de experiência no conflito.
Mas num tempo no que se procuram cada vez mais saídas individuais, as
trabalhadoras do 061 fostes quem de coletivizar o problema e procurar
umha resoluçom através da mobilizaçom.
Sim. Mas para mim continuamos a
orbitar em níveis individuais, refiro-me a nível de centro de trabalho,
nom se percebe coma um problema da classe trabalhadora. Está a TVG,
partilhamos prédio com eles em luita, os agentes florestais, as Kellys,
e nom se chega a coletivizar esse potencial. O capitalismo conseguiu
diluir a classe em setores, é isso foi umha vitória enorme. Mas se nós
pedimos 140 euros de suba foi porque as trabalhadoras do 112 conseguírom
120 com oitenta dias de greve. Isso para mim falta, falta interesse e
canles entre as luitas.
És jovem e estas
organizada a nível sindical, algo cada vez menos frequente. Que lhe
passa ao sindicalismo com a mocidade?
Eu daria-lhe a volta pergunta.
Que lhe passa a mocidade com o sindicalismo? Com a mocidade há um
problema enorme e entram um monte de fatores que nom tenhem só a ver com
as organizaçons. Temos que perguntar-nos que passa com a mocidade,
porque cobra três euros a hora e nom se organiza. A resposta que mais me
bem a cabeça é a precariedade; Compostela é umha cidade pequena e de
serviços, nós na CUT a maioria de conflitos que tivemos som na
hostelaria; e te sinalam, há medo, para mim é um exemplo de valentia que
umha moça soa num bar de o passo a organizar-se.
Depois está o problema das
estruturas sindicais, há que transformá-las. O modelo do sindicalismo
clássico está abocado a morte, e se nom é a morte a inaniçom. Nom se
adapta as demandas, a transformaçom do modelo laboral, fai-se o mesmo
que fai 20 anos e isso nom responde. Está a greve do 8M que mostra que
podemos adaptar-nos as demandas da sociedade. Algumhas estruturas
sindicais melhor outras pior, todas melhoráveis, mas é um avanço.
Também participaches das
dinâmicas do movimento estudantil. Que diferencias entre a organizaçom
como estudante e a organizaçom num centro de trabalho?
A nível de medos, quando está em
jogo um posto de trabalho. Como quem diz na Universidade tu nom tes nada
que perder, nom estas jogando cum salário. Além disto se tes consciência
política assumes a etapa universitária coma um momento de luita, para
mim a prova de lume é a organizaçom quando nos incorporamos ao mundo do
trabalho. É duro, ao final quando estas na Universidade tes um grupo de
pessoas com as que intervir e no teu posto de trabalho com sorte tes
algumha companheira, mas o lógico é que seja umha luita solitária com
todo o que isso implica a nível de frustraçons.
Existem diferentes
conflitos com a administraçom na externalizaçom de serviços. Que
horizonte de luita pode gerar-se com isto?
A externalizaçom sempre anda por
aí mas nom se assume como o centro dos problemas. Penso que a unióm
seria essa, que todas as trabalhadoras que estejamos num serviço
externalizado assumamos que o 80% dos nossos problemas venhem disso.
A articulaçom dumha luita pola
recuperaçom. Nom só a nível do trabalho, se nom também a nível social.
Ao final estas trabalhando para o Sergas de jeito externo com todas as
deficiências que isso implica e custando mais dinheiro que um serviço
público. Procura-se o benefício, e nós jogamos com a vida da gente,
assumir isso como um negocio parece-me terrível.
Por último. Que lhe
dirias umha pessoa jovem para anima-la a sindicalizar-se?
Primeiro mudar a imagem que
temos do sindicato. O sindicato nom é só umha gestora que pode arranjar
um problema num momento dado, é a nossa ferramenta, a única que
ferramenta que temos as trabalhadoras para luitar polos nossos direitos.
Também a nível emocional, para nom estar sozinha, ter umha rede apoio e
laços de confiança. Assumir o sindicato como a tua casa, como algo
próprio.
https://www.galizalivre.com/2018/09/17/andrea-lamas-trabalhadora-do-061-o-capitalismo-conseguiu-diluir-a-classe-em-setores/